segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Educação sentimental

Educação sentimental

Jamais me ensinaram a ser forte
Tive de aprender na marra a solidificar meu espírito
Jamais me educaram sentimentalmente
Jamais aprendi sobre a efemeridade das relações humanas
A lidar com a dor da ausência
A não devanear, a não me perder em idealizações
A ser mais pássaro e menos parasita
A colocar o "eu" acima do "nós"
A me apegar ao factual
A não aderir a utopias
A vida que me ensinaram soava como um conto de fadas moderno
Calcada em trabalho, lar, família, filhos
Calcada em eu te amo, em felizes para sempre, em prometo te amar e respeitar até a hora da nossa morte, amém
Calcada na fantasia, naquela perfeição estética arraigada no espírito coletivo
Foi esse o mundo que pintaram no quadro dos meus sonhos

Eis a base da minha desolação no momento em que você se foi
Já que tudo desmorona a tal ponto que o ceticismo envolve a alma
E se torna impossível vislumbrar um recomeço
Eximir-me da culpa não serve de consolo
A casa que me disseram para construir era de palha, frágil e bamba
Mas a casa que eu deveria ter construído era de tijolos, firme e resistente

Não aprendi na escola como me libertar
Aprendi apenas a procurar o outro
E na procura do outro encontrei apenas o reflexo do meu pensamento: vazio e inerte
Ninguém jamais me orientou a adquirir plenitude de espírito
A educação sentimental que eu recebi foi nula
Ancorada na farsa e na ficção
Gerou desastrosos desapontamentos
Enturvou minha visão
Obscureceu minha verdade
Não passou de uma falsa janela
Que supostamente apresentava o mundo – quando, na realidade, o encobria
Com um disfarce que, longe de me mostrar a felicidade, apenas a escondia.
(27/11/2017)

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