terça-feira, 11 de outubro de 2016

Poema para lembrar do que não deve ser lembrado

Um dia quis escrever uma canção
Para falar sobre nós dois
Foi então que desisti, adiei
Prolonguei o sofrimento para depois

É preciso colocar
Certas coisas em pratos limpos
Retirar o pó de fatos desprezados
Lembranças, acontecimentos soterrados

Você sabe que me dominava
Escravizava minha consciência
Me fazia rastejar
Eu era refém da minha obediência

Você sabe que caminhávamos
Em uma espécie sincronismo
Sua dor era minha dor
Sua alegria, meu esplendor
Eu vivia um mimetismo

Causando terremotos e redemoinhos em minha mente
Fecundando meu inconsciente
Com paranoias, turbulências
Eu virei meu próprio algoz
E fui tomado por esse sentimento atroz

Nosso amor indefinido
Sem saber se estava morto ou ferido
Sabendo somente de um pequeno fato:
Nada havia de decidido

Eis uma verdade:
Fui cego
Não fui dono da minha própria vontade
Me deixei tragar por uma tempestade
De promessas, ilusões
De fardos e decepções
De serenidades e turbilhões
Eu me enganei

Foi-se o dia da caça, hoje é o do caçador
Hoje me livrei das amarras, daquele leve torpor
Não sou mais a mesma pessoa
Hoje sou fortaleza, sou vastidão
Em meu lar não há mais escuridão

Fui alvo, hoje sou flecha
Disparada em direção à luz
Sou fulgor, por fim
Cintilando pelo horizonte
Ciente de toda a minha grandeza