sábado, 3 de dezembro de 2016

Sobre o declínio da minha mente

Decreto a morte de minhas lembranças
Decreto o fim da dor, da solidão e tudo mais
As turbinas do meu pensar foram desligadas
Revolve em minha cabeça um amontoado de incertezas
Como um milhão de furacões assolando meu interior
Decreto estado de emergência em meu espírito
Como se tudo estivesse revestido de um peso tal
Que qualquer carga adicional fosse causar um desmoronamento
Um apocalipse psicológico, uma psicologia apocalíptica
O mundo se tornou visivelmente torto
A realidade já não passa de ficção
Tempo e espaço se mesclam, se fundem e se repetem
Os cincos sentidos se tornam indissociáveis
Tudo é declínio e desmanche
E que esse grito de socorro, tardio porém genuíno
Possa ecoar nitidamente
Sem desvios ou distorções

terça-feira, 11 de outubro de 2016

Poema para lembrar do que não deve ser lembrado

Um dia quis escrever uma canção
Para falar sobre nós dois
Foi então que desisti, adiei
Prolonguei o sofrimento para depois

É preciso colocar
Certas coisas em pratos limpos
Retirar o pó de fatos desprezados
Lembranças, acontecimentos soterrados

Você sabe que me dominava
Escravizava minha consciência
Me fazia rastejar
Eu era refém da minha obediência

Você sabe que caminhávamos
Em uma espécie sincronismo
Sua dor era minha dor
Sua alegria, meu esplendor
Eu vivia um mimetismo

Causando terremotos e redemoinhos em minha mente
Fecundando meu inconsciente
Com paranoias, turbulências
Eu virei meu próprio algoz
E fui tomado por esse sentimento atroz

Nosso amor indefinido
Sem saber se estava morto ou ferido
Sabendo somente de um pequeno fato:
Nada havia de decidido

Eis uma verdade:
Fui cego
Não fui dono da minha própria vontade
Me deixei tragar por uma tempestade
De promessas, ilusões
De fardos e decepções
De serenidades e turbilhões
Eu me enganei

Foi-se o dia da caça, hoje é o do caçador
Hoje me livrei das amarras, daquele leve torpor
Não sou mais a mesma pessoa
Hoje sou fortaleza, sou vastidão
Em meu lar não há mais escuridão

Fui alvo, hoje sou flecha
Disparada em direção à luz
Sou fulgor, por fim
Cintilando pelo horizonte
Ciente de toda a minha grandeza

terça-feira, 21 de junho de 2016

Poema para alguém de outra galáxia

Eu costumava ficar esperando por você
Mas por acaso eu não espero mais
Sonhava acordado pensando em você
Mas por acaso eu não penso mais
Eu costumava delirar olhando você
Mas por acaso eu não deliro mais
Perdoava tuas mentiras acreditando em você
Mas por acaso não acredito mais

Nesse meio tempo, cresci
Dilatei meu espírito
Livrei-me de amarras
Reservei um tempo para mim

Amor de uma via só não é amor, é prisão
Amor que castra nossa alma, ilusão
Deságua em dor, promove mágoa, nunca salvação

Ontem foste minha algoz, amanhã alguém será o teu
Destruiste a minha voz, roubaste tudo que é meu
Hoje eu quero sentimentos plenos
Quero sentimentos amplos, amplidão

Não quero saber de incertezas
De ter de decifrar teus sumiços
De ser apenas uma opção
De tentar resistir a teus feitiços
Não quero saber de reprimendas
Eu não quero mais nada disso

Eu quero honestidade
Eu quero vastidão
Eu quero maturidade
Eu quero união
Quero a completude
Sem pensar em salvação
Cansei dessa escassez
Desse vácuo absoluto
Quero intensidade, profundidade, abundância
Mas tudo isso sem grilhões
Ser livre, apenas
Para amar e desamar

sábado, 20 de fevereiro de 2016

Eu sou líquido

Eu sou líquido
Modernidade líquida
Preso pelo tempo
Preso pelo espaço
Nada é constante
Tudo é por acaso
Nada é linear
Tudo é instantâneo
Tudo se desmancha
Tudo se desgasta
Nada é duradouro
Tudo é desprezível
Tudo é passageiro
Nada é palpável
Nada é aproveitável

Hoje sou teu grande amor
Amanhã não sei, quem sabe
Hoje te quero mais que tudo
Amanhã nem te conheço
Hoje sou um engenheiro
Amanhã advogado

Hoje a era é dos opostos
Nada é tudo, tudo é nada
Há carência de mergulhadores
Todos boiam na superfície
Nessa era da desordem
Sou o apogeu da efemeridade
Eu sou facilmente desintegrável
Eu sou líquido
Modernidade líquida

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Você deveria saber que o estado de espírito em que eu me encontro é um estado inconclusivo

Você deveria saber que o estado de espírito em que eu me encontro é um estado inconclusivo
Ando minando minhas certezas
Saboreando dúvidas e abrindo portas
Ando sendo mais espectador do que ator
Ando evitando taxações e rótulos
Ando valorizando o aprendizado
Independente de sua procedência


Você deveria entender que ando me permitindo insuficiências
Ando extirpando pré-julgamentos
Que avariam meu potencial
Me aleijam e me castram
Ando compondo, recompondo e sobrepondo pensamentos
Condensando uma profusão de ideias
Ando me contradizendo
Jogando palavras ao vento
Buscando mais equilíbrio e menos caos

Preciso de um tempo para sarar feridas
Exorcizar demônios remanescentes
Preciso da calmaria até a próxima tempestade
Reestabelecer forças, ponderar passos
Colher velhos frutos e semear novos
Até ter o vigor necessário para renascer
E enfrentar batalhas vindouras