sábado, 6 de abril de 2019

731

Todos os dias ela aparece — sorrateira e disfarçadamente
Buscando incessantemente uma forma de se esgueirar — passando desapercebida
E me queima, me acende e me ilumina
Me ilumina como uma tocha em uma noite escura
Silenciosamente se apossando do meu corpo — Transformando minha liquidez em secura
Me iluminando como um pano encharcado em gasolina
E jamais me permitindo descobrir
Onde a dor começa e onde termina
Ela me ilumina, fazendo com que eu queime de dentro para fora
O fogo me dilacera, cozinhando minhas vísceras
De forma semelhante às bruxas de outrora
Meu corpo já não responde a meus chamados
Adquire vida própria, pouco se importando se está ou não alimentado
Meu cérebro tampouco funciona da maneira devida
Como se meu verdadeiro eu estivesse mergulhando rumo às fossas marianas
Enquanto outro ego se apossa da minha consciência
E esse processo, um ciclo que se repete maquinalmente, dia após dia
Jamais irá se interromper — até o fim.