terça-feira, 10 de abril de 2018

Me deixa surtar

Eu não quero mais saber o que você pensa a respeito do meu desequilíbrio mental. Estou exausto de ter de sublimar meus instintos, camuflar meus desejos, abrir mão de minha individualidade. Essa máscara de sanidade que se manifesta em você e nos outros já não me evoca nada a não ser desprezo. Eu valorizo a loucura como um direito de todo ser humano. Valorizo aqueles que assumem suas insanidades, suas estranhezas, seus devaneios. Os desajuizados, aqueles que não possuem discernimento. Aqueles cientes de sua falta de tino. Aqueles que não cobram de si e do outros o inatingível, que não acham que a perfeição seja algo alcancável. Aqueles que estão a par de sua própria esquisitice.
Reservo-me o direito de ser esdrúxulo, porque acredito que isso faz parte de nossa essência. Porque sei que todos possuem sua loucura interna, mas são poucos os que embarcam nela e resolvem aceitá-la. Porque durante muito tempo tentei omitir e ocultar meus desvarios, me envergonhando deles. Aprendi, então, a valorizar os momentos de puro delírio, de insensatez. Aprendi a respeitar a irracionalidade, o ilógico, o incoerente e o absurdo. Quero ter o direito de me contradizer, de ser incoerente, inconsistente. Quero poder proferir tolices, proclamar asneiras, ser um perfeito lunático. Porque a sanidade, a coerência e a razão não passam de vãs utopias das quais a maior parte da humanidade ainda não conseguiu se livrar. Acreditam na mentira de que o pensamento humano possa funcionar de forma exata, sistemática e coerente - ledo engano, pois não há nada mais incoerente do que o pensamento humano. Acreditam em uma falsa ordenação, em uma falsa regularidade, fechando os olhos para a nossa implacável realidade caótica - sendo o caos o grande motor da vida, é inútil sair em busca de uma harmonia absoluta: somos desarmônicos, dissonantes. É por isso que eu advogo em prol da sandice, da insanidade, do delírio. Porque são essas as características mais humanas possíveis. Porque elas favorecem a criatividade, o novo, o diferente. Se não fosse a loucura, seria possível existirem os grandes artistas? Os grandes gênios, escritores, cientistas? Seria possível a existência de Da Vinci, Van Gogh, Beethoven, Einstein? Ou será esse um elemento crucial, por nos fazer perder o contato com o real e dar voz, corpo e alma a tudo aquilo que jaz nos confins de nosso inconsciente? A tolice e a insanidade são partes indissociáveis de nossa essência. Tentar livrar-se delas é desfazer-se do que de mais humano há em nós.