domingo, 13 de agosto de 2017

A poesia não existe nos fatos

Desculpe, Oswald, mas a poesia não existe nos fatos
Ela está presa às singularidades do sujeito
Não se faz poesia com o concreto
O poema é composto de um emaranhado de nadas
Pois nada do que existe nele é factível
O poeta é um artesão de falsas realidades
Um artífice do ilusório
Um mentiroso compulsivo

Palavras são instrumentos onipotentes
Capazes de pavimentar longas estradas
Exterminar todas as mazelas imagináveis
Alterar as leis da física
Mudar a realidade

A felicidade está ali:
Naquele mundo onírico
Está na existência de possibilidades
Está no sonho e na esperança
Está nas incertezas que dão origem às nossas utopias
Inventar, criar, fabular: tudo o que nos move
É trabalhar com o imaginário

Somos um conglomerado de subjetividades
Incapazes de manter os pés no chão
Mas ao mesmo tempo crentes de que isso seja possível

É por isso que a poesia é necessária:
Por não trabalhar com fatos
Por trazer à tona essa ilustre contradição:
Sendo a maior demonstração existente
De que nos guiamos pelo inexistente

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