domingo, 29 de dezembro de 2019

Vazio

Há um vazio que sorrateiramente se acomoda em minhas entranhas — toda vez em que me encontro face a face com a quietude do ócio e com a inexistência do querer. É esse sentimento, tão difícil de descrever, que se apodera de minha alma nos momentos mais inoportunos e faz com que o mundo perca todas as suas singularidades e vire uma massa amorfa, um amontoado de nadas. Me tira completamente dos eixos, tomando controle sobre meu ser e exercendo sobre ele uma liderança absoluta; me torna inconsciente, atirando minha mente em um limbo completo do qual emergir se torna uma odisseia monumental. Tal sentimento é ampliado pela própria impossibilidade de retratá-lo de forma minimamente palpável, pois consiste em algo de tal forma vago e indefinido que qualquer tentativa de caracterizá-lo resultaria extremamente distante da forma com a qual ele se expressa. Trata-se da ausência, da falta, da omissão; mas não se sabe do quê. É, em síntese, uma ausência generalizada e indefinida que me põe na cobiça de algo que eu sequer sei o nome.

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